Tanto de nós em tão pouco tempo e quase nada de cada um é o que resta.
A escolha entre o inteiro e a metade; a parte. A parte da partida que deixou uma dor na despedida e fez surgir o desejo de querer te esquecer por um segundo. Mas droga, era só um segundo e nem isso permitiram.
A parte que mais dói é a de te ver de longe, com sua eterna dificuldade de fincar os pés no chão. Sua eterna dificuldade. Sua cara de quem finge preocupação ao me ver chorar no pátio - Sim! - choro que nem uma louca, desesperada só porque eu preciso de você e isso não faz a mínima diferença.
Sabe esse vínculo que a gente cria com quem não pode criar? Essa coisa de não conseguir segurar as palavras na boca, essa coisa de se permitir, de sentir as pernas tremerem, de sentir o corpo arrepiar, essa coisa de não conseguir dormir sem pensar na pessoa.
Aí começa: você projeta uma imagem perfeita do outro, projeta uma imagem que não vai poder ser destruída, mesmo que você queira e você inclui o outro nos seus planos para o futuro - ééééé, você tem planos para o futuro.
Você não aguenta mais olhar pra ele de longe, você quer estar perto, cercando-o, você deseja aquela troca de carinho e você sonha com ele.
Uma pergunta.
Você se dá o direito de fazer uma pergunta pra ele.
Suas pernas tremem porque você está se aproximando dele, seu coração já está na boca, sua língua está travada, sua boca está seca, tem um filme rodando na sua cabeça, sua distonia está acentuada (esses seus problemas mitocondriais que te faz exigir uma toalha), você está muito preocupada com tudo, você pensa em não tropeçar, pensa em não torcer o pé, pensa em rebolar sem ser vulgar, pensa em jogar o cabelo, pensa em apertar os olhos - daquele jeito que ele gosta - pensa no tom de voz e se dá conta de que ele está à alguns centímetros de você. Você para. Ele percebe que você está alí, mas faz de conta que não.
Você o toca com suavidade, pede licença, senta na cadeira do lado - e é claro que nesse momento, tudo o que você pensou até agora já foi pro brejo - e resolve falar sem nem saber se ele tem algo pra dizer.
E você diz: "preciso te fazer uma pergunta importante.".
Você espera o aval do patético que te confirma só com o meio sorriso de canto de boca - aquele que você adora - e lá vai a menina guerreira mais uma vez: "ok, preciso saber se tudo o que" e você é interrompida por um calor, um calor que você lembra muito bem pelo que é causado. SIM! Ele te beijou, ele nem esperou você terminar a pergunta e te beijou.
E você ouviu ele te falando baixinho, quase que num sussurro: "isso responde qualquer pergunta."