Vem cá, tira essa roupa molhada, pega essas toalhas que um dia foram tuas e que eu guardei com o teu cheiro ainda tão acentuado. Sinta-se em casa, só não dê de mexer na terceira gaveta da mesa de cabeceira, é lá onde eu guardo todas as cartas não lidas, todas as cartas não escritas, não dê de (re)mexer no passado que desde outrora já fora gasto. Não dê de acordar esse sentimento que dorme um sono leve. Entre, sente-se, tome um café que acabei de passar. Só não dê de falar, de novo, sobre meus livros bagunçados, não dê de reclamar do vazamento da pia da cozinha, eu juro que fiquei de chamar o encanador. Vai no quarto, mas não repara no porta-retrato que ainda guarda uma lembrança tua. Para aí, fica no corredor por um instante, de braços abertos esperando meu abraço, que era como você fazia todos os dias. Fica aí, com esse cabelo bagunçado, que me rendia uma eternidade pra desvencilhar meus dedos. Ouça! Se bem me lembro, essa é a nossa música. Sim! Ela está tocando de novo, eu devo ter deixado o computador ligado reproduzindo a pasta do Caetano. Vem aqui, a TV da sala tá ligada, senta no lado do sofá que você gostava, só não dê de reclamar do meu moleton cinza e por favor, não repara na tua camisa jogada no braço da cadeira, é que eu a usei ontem pra dormir. Ei! Passa o controle remoto, não vou deixar você continuar dominando minhas coisas. Você é o EX-emplo de quase tudo que o próximo não deve ser. Não se preocupa, eu só vou exigir que ele saiba cuidar de mim tão bem quanto você.
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