terça-feira, 4 de janeiro de 2011

A gente só não quer que as pessoas passem.

"Há muita gente
Apagada pelo tempo
Nos papéis desta lembrança
Que tão pouco me ficou."
(Caetano Veloso)





A gente canta mentiras,
jura amores eternos,
tenta fazer do mundo um lugar melhor.
A gente sucumbe pensamentos,
ignora pessoas,
dispensa um amor,
acredita meio que sem querer.
A gente rasga cartas,
dramatiza,
sente o vento nos cabelos,
a gente deixa livre o que mais quer prender.
A gente esbarra nos planos,
tropeça no vão e se sente só.
A gente enxerga,
lê,
pensa,
se restringe ao passado.
A gente tenta chamar atenção,
tenta não se frustrar.
A gente é surpreendido pelo futuro,
joga tudo nas mãos do destino
e seja o que Deus quiser.
A gente arruma em que por a culpa,
conta piada de português,
topa com o dedo mínimo do pé
e solta um palavrão de dor.
A gente vive conforme os padrões.
A gente abre um vinho, 
enche uma taça,
se embriaga.
A gente esquece o que falou,
esquece o que viu,
só não esquece o que ouviu.
A gente até grita de raiva,
ou de desespero,
ou, sei lá, de alegria,
mas no fundo,
o que a gente quer, 
é só ter alguém 
pra sussurrar que tudo vai ficar bem,
ter alguém pra apoiar as mãos nos seus joelhos,
olhar nos seus olhos,
e dizer: segura a minha mão.
Na verdade, a gente só não quer que as pessoas passem.

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